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Bendita noite.....a melhor amiga do homem


O copo de cerveja vazio caído sobre a mesa, tendo ao lado o toco de cigarro no chão, denunciava o silêncio do ambiente agora rompido pelos primeiros raios de sol que passavam pela janela de madeira. Este silêncio que permitia acordar de um sono profundo, ainda sentindo o cheiro da cerveja vencida e do cigarro consumido vorazmente na noite anterior. Bendita noite.....a melhor amiga do homem durante muitos anos. A noite que esconde segredos que somente são desvendados na boemia sadia que nos atrai. Boemia que ensina, que desnuda, que revela. Na mesa ao lado, a imagem da cantora deitada em cima dos braços, tendo o vestido quase caído por sobre o ombro e um seio à mostra. Em movimentos leves ela também acordava de um sono em lá maior, embalado por Dolores Duran e Cartola.

Os raios de sol tomaram corpo e clarearam o ambiente por completo. Já era dia.....mais um dia. Ainda viriam pela frente, mais 12 ou 14 horas para o recomeço. Pois a boemia é isso: um recomeço diário, onde o sorriso impera, mas o desgaste acompanha. Onde sorrisos atraem pessoas e relacionamentos começam alí, em meio a cervejas geladas ou cubas com rum nacional. Fumaças despistam maquiagens mal feitas, mas o clima permite um envolvimento.

E quase sempre, companhias da boemia são inesquecíveis. Nem tanto pela beleza, mas principalmente pela conversa que se põe à mesa. Quando tudo corre bem, uma noite de amor fica marcada para muitos anos ser lembrada como especial. Ou não.

Quem vive a boemia sabe que a noite faz amigos. E alguns são para sempre, mesmo que não saibamos os nomes corretos uns dos outros.

O reencontro depois de um tempo, o tocador de violão que já sabe a música que você gosta, já cantarola de forma suave para chamar sua atenção e agradar o amigo.

A bebida, às vezes você nem pede e o garçom já vem com o copo suado e a garrafa bem gelada, tendo o cinzeiro ao lado para gerar o clima perfeito.

A boemia é recheada de emoções semanais, músicas que te transportam, papos que te iluminam, ou te derrubam.

A boa boemia maltrata o corpo, o fígado, o pulmão, mas sempre será lembrada com carinho, com aquela música do Tom Jobim, aquele chorinho do Pixinguinha, aquele verso do Evaldo Gouveia.

Cantoras e vozes femininas que acompanham, formam o coral da noite, muito bem ouvido naquele bar, mas esquecido na rua, quando chega o fim de tudo....

O mais difícil é quando o dia amanhece. Primeiro porque terminou a noitada e segundo porque o dia está começando de forma anormal. Queira ou não, você deveria estar saindo da cama para ir trabalhar e não de um bar para começar o dia.

Esta é a vida de milhares de brasileiros de ontem, pois os de hoje não conheceram nada disso. A boemia acabou, os bares se calaram, a violência entrou e ficou. O garçom amigo só trabalha até as 11 da noite e o tocador e violão hoje tem medo, por isso sai mais cedo.

Vozes femininas e reveladoras podem ser ouvidas e curtidas em outros ambientes, em outros horários que não os da madruga...

A vida de quem viveu a boemia não é igual ao de um ser humano comum, normal.

No dedilhado de um violão aprende-se muita coisa. Amor, respeito, paixão, porres, ressacas, vícios.

Tudo somado traduz-se por vida.

Sofrida, sem dúvida, mas uma delícia para quem viveu.

Não foi à toa que Nelson Gonçalves consagrou a música “A Volta do Boêmio”, quando ele compôs e cantou:

“ Boemia.... aqui me tens de regresso e suplicante te peço a minha nova inscrição....

Voltei, pra rever os amigos que um dia eu deixei a chorar de alegria, me acompanha o meu violão

Boemia, sabendo que andei distante sei que essa gente falante vai agora ironizar

Ele voltou, o boêmio voltou novamente partiu daqui tão contente por que razão quer voltar?

Acontece, que a mulher que floriu meu caminho de ternura, meiguice e carinho, sendo a vida do meu coração

Compreendeu, e abraçou-me dizendo a sorrir: meu amor você pode partir, não esqueça o seu violão”

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